Os políticos espertalhões, a mídia, os vigaristas e os profissionais
de Marketing sabem que para as pessoas que formam a massa de manobra você vende
o quiser. Não duvide, algumas delas provavelmente ainda acreditam em Papai
Noel.
Aliás, qualquer pessoa que perpetue a fábula do velhinho que
corre o mundo em um trenó em uma única noite, está mentindo para seus filhos.
Que contradição, não é mesmo? Dou a melhor educação para o meu filho, ensino a
ele tudo sobre honestidade e o poder da verdade, entretanto mantenho viva a
magia do Natal contando a ele que Papai Noel existe, além disso acrescento bons
princípios (que se parecem mais com chantagem!), exijo que ele seja um bom
menino, para que o velhinho venha no meio da noite e deixe um presente na meia
dele. Devidamente subornado, ele terá um dia de encanto quanto acordar.
Essa é a mais bem sucedida campanha de Marketing que já
existiu. Pena que a Coca-Cola quando formulou o briefing da campanha, não
frisou que o bom velhinho presentearia apenas com seus refrigerantes, e se
contentou em fazer parte da comemoração. Ela seria campeã absoluta de vendas,
só teria que lançar umas garrafas high-tech ou luxuosas para contentar os
gostos mais refinados.
Bom, a lenda realmente existe, ela ganhou uma roupagem nova,
e a ideia se apoderou das mentes propícias a serem massa de manobra, já que todo
o enredo está cercada pelo glamour da troca de presentes, do apelo cristão de redenção
e perdão que cerca a data. Quem não embarcaria na ideia?
Você pode ser um canalha o ano inteiro. Aí por um dia, você
se cobre de sentimentalismo, que pode encontrar em um cartão de banca de jornal
e presenteia as pessoas que você detonou o ano todo. Você se torna o “generoso”.
Quanto mais caro for o presente, mas generoso você será. Não é perfeito?
Até se parece com as indulgências que os cristãos pagavam
para terem acesso ao Reino dos Céus, com uma boa diferença, você não precisa morrer
para saber se alcançou seu objetivo. Ele é alcançado de imediato.
Não é à toa que o Japão, que, por definição, nem cristão é,
aderiu à data. Ela vende mais do que sexo. Todo mundo quer ser bom, e é isso
que todas aquelas músicas, luzes e sentimentalismo da campanha natalina pregam.
Acima de tudo, você se torna bom e generoso, sem o trabalho de o ser realmente.
Quem se importa se a data é pagã ou se Jesus nasceu mesmo
nesta data? Se você é cristão ou não? Que diferença isso faz? O importante é
presentear! E nesse clima até os agnósticos embarcam. E não me venha com
lembrancinha, presentei com presentes caros. Cada vez mais esse recado se
intensifica, vide campanhas nas TVs, jornais, revistas, internet: “É Natal! Dê uma
joia, dê um computador de última geração, dê um celular interplanetário, dê um
carro, dê um apartamento luxuoso... só não deixe de presentear.”
(Risos.) Acho que me aprofundei demais na estória do Papai
Noel, mas para encurtá-la, meus pais me contaram a verdade logo de cara.
Consumismo lá em casa não vingava, a vida era dura, e minha mãe abriu logo o
jogo e sem cerimônia: “Filha, Papai Noel não existe, quem vai comprar seu
presente é seu pai, com o esforço do trabalho dele e dentro das nossas posses”.
Os defensores do marketing natalino, pensam que sou
traumatizada por conta disso, mas eu entendi perfeitamente o que minha mãe
disse, sempre agradeci imensamente meu pai pelo que ele pôde comprar. Percebi que
a dignidade estava no trabalho. E não vejo motivo para mentir, pois para sonhar
e ter esperança não é preciso mentir.
A partir do momento que você se torna um pai ou uma mãe,
você se torna exemplo para seus filhos, eles se espelham em você, eles aprendem
não só o que você diz, mas o que você vive e faz. Como esperar que se filho não
fume, se você fuma? Como esperar que sua filha não engravide na adolescência,
se você engravidou? Como esperar que seus filhos sejam honesto, se você mente
para eles? Por esse motivo, pondere bem sobre o que está mentido para eles.
Alcançar a massa de manobra é simples, ela aceita ideias
fáceis e confortáveis, do tipo Papai Noel em latinha vermelha. Pode ser transportado
com facilidade, fica à mão, não dá trabalho para abrir, é só engolir! «